ATA DA QÜINQUAGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA
TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM
02-12-2003.
Aos dois dias do mês de dezembro de dois mil e três,
reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e dez minutos, constatada a
existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Maestro Frederico Gerling Júnior, nos termos do Projeto de Lei do
Legislativo nº 356/03 (Processo nº 4656/03), de autoria do Vereador Carlos
Pestana. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre; o Senhor Mário Panaro, Cônsul-Geral da Itália; o
Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto
Alegre; o Maestro Frederico Gerling Júnior, Homenageado; o Vereador Carlos
Pestana, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, pela
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – OSPA – e pelo Coral da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, sob a regência do Maestro
Túlio Belardi, e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome
da Casa. O Vereador Carlos Pestana, em nome das Bancadas do PT, PCdoB, PDT,
PMDB, PPS, PSB e PTB, teceu considerações a respeito da trajetória pessoal e
profissional do Homenageado, expondo os motivos que levaram Sua Excelência a
propor o Título hoje entregue por esta Casa e destacando o caráter empreendedor
do Maestro Frederico Gerling Júnior na busca do crescimento cultural de Porto
Alegre. A seguir, o Senhor Presidente registrou as presenças da Senhora Ana
Harder, irmã do Homenageado; do Irmão Avelino Madalozzo; e da Senhora Helena
Willian Oliveira, Pró-Reitora de Assuntos Comunitários da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, representando o Irmão Norberto
Rauch, Reitor dessa instituição. Após, foi dada continuidade às manifestações
dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do
PP, saudou o Maestro Frederico Gerling Júnior, afirmando que, de todas as
formas de comunicação entre as pessoas, a música é a que mais envolve e integra,
sendo expressão do que de belo existe na alma humana. Ainda, leu trechos do
libreto “Dois poemas ao sol”, de autoria do Homenageado. O Vereador Cláudio
Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, mencionando a figura do Maestro Heitor
Villa-Lobos como um dos símbolos da cultura brasileira, analisou o significado
da música como catalisadora das emoções humanas. Finalizando, declarou ser
motivo de orgulho para a Cidade a incorporação do nome do Maestro Frederico
Gerling Júnior no rol de cidadãos honorários de Porto Alegre. Na ocasião, o
Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à
presente solenidade, enviadas pelo Vereador Carlos Alberto Garcia; pela Senhora
Marli Dossin, Assistente da Direção Artística da Orquestra Sinfônica de Porto
Alegre; pelo Senhor Marcos Adriano dos Santos Schleintvein, Chefe de Gabinete
da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, em nome do Senhor Odacir
Klein, Secretário dessa Pasta; pela Senhora Talaine Selistre, do Cerimonial da
Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, em nome do
Senhor Edir Oliveira, Secretário dessa Pasta; pelo Deputado Estadual Ruy
Pauletti, Presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e
Tecnologia da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; pelo
Conselheiro Victor Faccioni, Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio
Grande do Sul; pelo Senhor Armênio de Oliveira dos Santos, Chefe de Gabinete da
Secretaria Estadual do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais; pelo
Desembargador Vladimir Passos de Freitas, Presidente do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região; pela Senhora Rosa Maria Weber Candiota da Rosa,
Presidenta do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região; pelo Senhor Eduardo
Giugliani, Diretor da Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Após, foi dada continuidade às manifestações dos
Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL,
parabenizando o Vereador Carlos Pestana pela proposta da presente solenidade,
discorreu sobre a importância ao Maestro Frederico Gerling Júnior junto à
cultura do Rio Grande do Sul e do Brasil, afirmando ser o Homenageado um
exemplo de personalidade marcada pela competência profissional e pela dedicação
à música. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Carlos Pestana e a
Senhora Adriana Cardoso de Almeida, Coordenadora do Instituto de Cultura
Musical da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, para
procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de
Cidadão de Porto Alegre ao Maestro Frederico Gerling Júnior. Após, foi
apresentada a peça musical “Oh! Mio Bambino Caro”, da ópera “Gianni Schichi”,
de Giácomo Puccini, interpretada pela Soprano Adriana Cardoso de Almeida e pela
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, regida pelo Maestro Túlio Belardi. Em
continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Maestro Frederico
Gerling Júnior, que agradeceu o Título recebido. Também, foram apresentadas as
peças musicais “Va Pensiero”, da ópera “Nabucco”, de Verdi, e “Ode à Alegria”,
de Beethoven, interpretadas pelo Coral da PUCRS e pela Orquestra Sinfônica de
Porto Alegre, regidos pelo Maestro Frederico Gerling Júnior. A seguir, o Senhor
Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino
Rio-Grandense, interpretado pelo Coral da PUCRS e pela Orquestra Sinfônica de
Porto Alegre, regidos pelo Maestro Túlio Belardi, e, nada mais havendo a
tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às
vinte horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para
a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Carlos Pestana,
como Secretário "ad hoc". Do que eu, Carlos Pestana, Secretário
"ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e
aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Muito boa-noite. Estão abertos os
trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Maestro Frederico
Gerling Júnior. Quando das comemorações dos 230 anos da Câmara Municipal, nos
Concertos Comunitários Zaffari regidos pelo Maestro Frederico Gerling Junior, foi
anunciado que ele seria o novo Cidadão de Porto Alegre. Hoje nós estamos aqui
reunidos para que lhe seja outorgado o Título de Cidadão de Porto Alegre, com
muita honra para nós.
Compõe
a Mesa o nosso ilustre homenageado Maestro Frederico Gerling Junior; o Dr.
Mário Panaro, Cônsul-Geral da Itália; o Dr. Geraldo Stédile, Presidente do
Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Apresentação
do Coral da PUC e da OSPA sob a regência do Maestro Túlio Belardi, que executa
o Hino Nacional.)
Agradecemos
ao Maestro Túlio Belardi, que foi o terceiro cidadão a receber, da Casa do Povo
de Porto Alegre, o Título de Cidadão Integração.
A homenagem que se presta hoje é a um maestro que ama esta Cidade.
Eu sempre disse que a música é a fala dos anjos e, realmente, é uma verdade. E
o Maestro mandou-me uma série de partituras e eu, que gosto de música, não sei
lê-las, não sei como usá-las. Então, eu tentei compor as partituras que o
Maestro mandou para ver se nós fazemos uma mensagem, que nas partituras eu li o
amor a Deus do nosso Maestro. A primeira diz: “Vejo a Deus, Rei dos reis, que
maravilhoso; faremos uma missa breve; entoaremos um Te Deunt”. E depois ele fala na Stabat
Mater, e para ela ele faz dois poemas ao sol. Eu não sei música, mas fiquei
encantado com as partituras que eu recebi e que serão entregues à biblioteca da
Casa do Povo de Porto Alegre.
O
Ver. Carlos Pestana, proponente da homenagem, está com a palavra e falará em
nome do PT, PDT, PTB, PMDB, PPS, PSB e PCdoB.
O SR. CARLOS PESTANA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Primeiro, queria
colocar que, normalmente, quando venho a esta tribuna, como Vereador desta
Casa, faço as minhas falas, os meus discursos de improviso, não tenho o hábito
de trazer nada escrito. Mas, em função de um conjunto enorme de atividades
culturais que o Maestro promoveu nesta Cidade e no conjunto da sua vida, até me
obriguei a trazer um arrazoado, sob pena de esquecer uma série de ações que o
Maestro, nesses anos todos, já promoveu.
O Maestro Frederico Gerling Júnior, nascido em Jaraguá do
Sul, Santa Catarina, iniciou sua carreira em São Paulo, regendo os corais da
rede municipal da cidade de São Paulo. Em 1950, veio para Porto Alegre, onde,
no mesmo ano, fundou o Coral Händel; fundou o Coral SESC; fundou o LICEU
Rio-grandense; instituiu a Associação Lírica Porto-alegrense. E, antes disso,
já havia sido Diretor Artístico e regente da Sociedade Lírica de Pernambuco;
Diretor e Produtor da TV Canal 2 de Recife. Teve participações no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, bem como no Teatro Guaira em Curitiba, como também
já havia fundando o Coral Sinfônico do Paraná.
Em 1972, volta para Porto Alegre, assumindo a regência do
Coral da Pontifícia Universidade Católica. Junto com isso forma o Centro
Cultural Municipal, hoje, instituído como Instituto de Cultura Musical. Em
1986, passa a ser o Diretor e o Regente do Coral e da Orquestra.
Nesse período todo, o Maestro produziu e teve participação
como regente em mais de sessenta produções de óperas no nosso Estado. Vou aqui
também repassar algumas delas: A Viúva Alegre; Fausto; La Traviata; Carmen;
Rigoletto; Aída; O Morcego; O Guarani e outras tantas que teve a regência do
Maestro Frederico Júnior.
Além
dessas ações, produziu mais três óperas voltadas para as crianças, em 1997: O
Barbeiro de Sevilha, A Flauta Mágica, O Elixir do Amor.
Em
1994, já teve, por parte da Assembléia Legislativa do nosso Estado, o reconhecimento
como Gaúcho Honorífico e, neste mesmo ano, recebeu a Medalha Simões Lopes Neto.
Não bastasse o conjunto de ações de atividades culturais, produziu, ajudou a
construir os Concertos Comunitários Zaffari, com a presença de mais de 600 mil
pessoas nesses concertos, que procuram, com muito êxito, com muito sucesso,
popularizar a música clássica.
Então,
um conjunto de ações, de iniciativas fizeram com que este Vereador, juntamente
com a Câmara de Vereadores, prestasse esta justa homenagem ao Maestro. Eu acho
que mais importante, mais significativo do que o Título que hoje nós estamos
dando ao Maestro é o reconhecimento, a amizade dessas dezenas, talvez, centenas
de amigos e admiradores que se encontram, hoje, neste plenário. Isso, sem
dúvida nenhuma, é muito mais significativo do que esta singela homenagem, que
teve a iniciativa deste Vereador e que foi aprovada pela unanimidade dos
Vereadores desta Casa.
Neste
momento, eu queria agradecer ao Maestro, que, há poucos minutos antes de
entrarmos neste plenário, me agradecia por esta homenagem. Eu dizia ao Maestro:
“Quem deve agradecer sou eu”, porque o que houve de pessoas que contataram com
o Gabinete para, simplesmente, saudar esta iniciativa, para parabenizar este
Vereador, que nada mais fez do que lembrar da figura do Maestro, foi um número
extremamente significativo.
O
carinho, que, de certa forma, também se traduz na grande presença de pessoas
nesta Casa, não se expressa, simplesmente, na entrega deste Título. De qualquer
forma, é uma pequena, mas sincera homenagem desta Casa a alguém que fez tanto
pela cultura da nossa Cidade, do nosso Estado. Parabéns, Maestro! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Eu desejo registrar a presença da Sr.ª
Ana Harder, que é irmã do nosso homenageado e que veio dos Estados Unidos para
dividir com o seu irmão a felicidade desta homenagem. Registro também a
presença da Pró-Reitora de Assuntos Comunitários, Prof.ª Dr.ª Helena William
Oliveira, representando o Magnífico Reitor da PUC, Irmão Norberto Rauch; do
Irmão Avelino Madalozzo.
O
Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará em nome do seu Partido, o
PP.
O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) De todas as formas de comunicação,
a música é a que mais transmite, a que mais envolve, a que mais integra e que
tem maior alcance no tempo e no espaço.
Ouvir
música é um privilégio que poucos têm e que menos ainda desfrutam. E, no
entanto, só é comparável ao de fazer e executar música, pois um não pode
superar o outro, pela excelsitude de que cada um está revestido, acima da
própria compreensão humana.
Espero
que todos percebam que me refiro à boa e verdadeira música, aqui entendida como
arte, como expressão do que de mais belo existe na alma humana, como linguagem
transcendental, graça divina superior à própria inteligência capaz de falar
também ao espírito ignaro e mesmo aos irracionais.
Bem-aventurados,
então, os que ouvem ou que fazem música, pois receberam a graça do contato
transcendental e da proximidade com o divino.
Bem-aventurados
os que cultuam e divulgam a música, pois são mensageiros da arte e do belo.
Bem-aventurados,
enfim, os que fazem da música uma parte de seu ser, mais do que um objetivo de
vida, a consubstancialidade da própria vida.
É
o caso do nosso homenageado de hoje, o já gaúcho honorário e, agora, Cidadão
Honorário de Porto Alegre, o Maestro Frederic Gerling Junior.
E
quero cumprimentar, enfaticamente, o ilustre Vereador Carlos Pestana, pela
oportunidade e inteligência da proposta de concessão deste Título, que recebeu
a aprovação unânime dos Vereadores de Porto Alegre, espelhando o pensamento e a
vontade da população da Capital.
Falar
de Frederic Gerling Junior é falar de música e, ao mesmo tempo, falar de fé e
de comunhão com a natureza.
É,
também, falar de viver e de conviver, de ser e de realizar, de aprender e de
ensinar.
É
falar de dar e de receber, de ter e de transbordar, de semear e de compartir.
E
é esse exatamente o motivo por que os porto-alegrenses quiseram, através da sua
Câmara de Vereadores, torná-lo Cidadão Honorário de Porto Alegre.
Frederico
Gerling Junior tem um portfolio
invejável em termos de serviços prestados à cultura porto-alegrense, que só tem
feito crescer desde que, em 1950, morou em Porto Alegre pela primeira vez, e no
qual se destacam os cursos e encontros de música, a série de espetáculos
eruditos trazidos à Cidade e a idealização dos Concertos Comunitários Zaffari,
que têm levado a música ao povo e já se tornou uma referência cultural em nossa
Cidade.
Talvez
algumas poucas pessoas possam equivaler-se a ele no volume de produção
cultural.
Talvez
raríssimas possam fazê-lo com o mesmo devotamento, a mesma inteligência e o
mesmo brilho.
Mas
creio que talvez ninguém possa igualá-lo na sensibilidade com que capta as
manifestações da natureza, expressões verdadeiras do pensamento e da voz de
Deus, e as transforma em ações musicais que, altruisticamente, faz transbordar
de si para a comunidade.
Assim,
toda sua obra, na criação ou no exercício da música, está impregnada de fé,
alcançada na graça de uma vida plena do bom e do belo, e que faz espraiar pela
realidade exterior.
Para
encerrar, colho do libreto Dois Poemas ao Sol, de autoria de nosso homenageado,
um pequeno trecho, que bem espelha o que acabei de afirmar:
“Pensei
na importância do nascer do sol – ele acaba dissipando a escuridão,
oferecendo-nos um novo dia, com todas as oportunidades, inclusive a de tentar
mais uma vez orientar e direcionar nossas vidas em benefício dos semelhantes.
Corações atribulados e almas sombrias, contemplando o amanhecer, poderão encher
seus corações de amor, fé e esperança, cantando o Hino ao Sol, revertendo o
sentido de suas vidas”.
Em
meu nome e dos Vereadores João Dib, Pedro Américo Leal e Beto Moesch, da
Bancada do Partido Progressista, nesta Casa, obrigado, Maestro Gerling, por sua
participação em nossas vidas. E receba nossos cumprimentos pelo Título que
agora recebe.
Que
Deus continue a lhe dar talentos, para que possa distribuí-los, generosamente,
a toda a sociedade. Parabéns.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Cláudio Sebenelo está com a
palavra e falará em nome do seu Partido, o PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras.
(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Neste momento, queria dizer
uma frase que o Ver. Carlos Pestana – vou fazer uma inconfidência – disse-me:
que ele nunca foi tão cumprimentado na sua vida de Vereador como hoje por ter
escolhido o Maestro Frederico Gerling Junior. Eu tenho uma sensibilidade imensa
que aflora à pele quando o Maestro Berlardi toca o Hino Nacional com orquestra
e coral, isso mexe muito com a gente. Como a gravação do Hino do Rio Grande do
Sul, também, que encerrava as programações da TV Educativa de Porto Alegre, e
todos os dias a emoção é a mesma. Emoções imensas de estar encontrando inúmeras
pessoas, que são muito queridas minhas, como o grande pianista gaúcho e médico,
Dr. José Luiz de Couto Natorf, meu querido amigo, que hoje eu tenho a
felicidade de encontrar.
São
esses momentos fantásticos, Maestro, que fazem com que a música seja o grande
catalisador da melhora das relações sociais. Uma das maiores emoções da minha
vida senti no ano passado, quando eu e minha mulher caminhávamos de madrugada,
em Paris, e, de repente, vimos uma plaquinha em uma parede que dizia assim, em
francês: “Aqui morou Heitor Villa-Lobos, o maior intérprete da alma
brasileira”. Foi um momento fantástico de emoção e patriotismo num reconhecimento
ao artista brasileiro, que previu, que entendeu e que explicou a mestiçagem
brasileira. Villa-Lobos é contemporâneo de Stravinski, e a sua “Sagração da
Primavera” com a onomatopéia de todos os sons da primavera foi quase que
plagiada por Heitor Villa-Lobos em "Sinfonia Amazônica". E os sons da
mata, os sons dos pássaros, do vento, da natureza estavam da mesma forma, no
mesmo estilo, na mesma contemporaneidade de Stravinski e Villa-Lobos, que eram
íntimos amigos. E Villa-Lobos era apaixonado e disse isso, muitas vezes na
vida, por “Sagração da Primavera”.
Da
mesma forma ele conviveu com Debussy, e se vocês ouvirem a delicadeza de “Clair
de Lune” vocês vão ver também a delicadeza da “Valsa da Dor”, que é uma valsa
até depressiva, como todas as músicas do final de vida de uma pessoa,
especialmente de Villa-Lobos, mas nós entendemos assim que a “Valsa Triste de
Sibellius”, que Villa-Lobos era um apaixonado, é também uma forma de ver como
são comuns, como os sentimentos e como as inspirações se aproximam musicalmente,
estejam em qualquer parte do mundo, da parte mais fria à mais tropical delas.
Eu
falo nisso, maestro, com uma inveja muito grande sua de ter escolhido esta capa
que eu procurei... Porque isto aqui é o pôr-do-sol de Porto Alegre, claro que
não é Porto Alegre, mas é muito parecido com o de Porto Alegre. Eu lancei um
livro de poesias há um mês e eu procurei desesperadamente por uma foto, a foto
que eu queria para o meu livro está aqui no seu livro. Este livro é maravilhoso
e é um presente que nós recebemos da Câmara, e eu quero agradecer publicamente
pelo presente que eu recebi do Ver. João Antonio Dib, que chama-se
"Concertos Comunitários Zaffari n.º 1", em que o esplendor do seu
Coral é fantasticamente valorizado na "Carmen", naquele baixo cantor maravilhoso,
e eu todos os dias ouço no carro, quando eu venho para a Câmara, do hospital
para cá, eu coloco no máximo o som do meu carro, e ponho o CD dos
"Concertos Zaffari", e fico escutando enlouquecido de felicidade, de
ter momentos de solidão e de música. Porque não há coisa mais linda do que a
tradução da psicomotricidade fina da inspiração de um pintor numa tela
transmitindo, e permitindo, que o público sonhe, crie imagens, rostos,
panoramas. Não há felicidade maior do que falar a língua fantástica das
partituras. E essa sensação, peço ao Maestro, como brasileiro, e apaixonado por
Heitor Villa-Lobos, que um dia o inclua em seus concertos - sei que é difícil,
porque não temos música coral. E, às vezes, fico pensando numa música, uma
sinfonia com o “Chorus Line”, de um autor brasileiro; isso, para mim, seria,
talvez, um dos maiores momentos de aproximação do ser humano, neste verdadeiro
momento de felicidade, traduzido aqui pela presença dessa orquestra tão querida
nossa, desta idéia magnífica do Ver. Carlos Pestana de homenagear um homem que
é de um Estado chamado Santa Catarina, que nos produziu, recentemente, Maestro,
uma Orquestra de Câmara de Blumenau, que foi uma das belas coisas que a música
erudita brasileira, com música seiscentista, produziu e que para nós é um dos
momentos altos dessa magia que entra pelos ouvidos e consegue mexer com todo o
nosso afeto, com toda a nossa loucura e com todo o nosso fascínio.
É
disso que estamos falando; estamos falando dessa doida sensação de sentir uma
música, de ouvir uma música, de dormir, de chorar profundamente na tristeza dos
tons menores e de, às vezes, sair disparando em louca corrida pela felicidade
das grandes sinfonias que o mundo produziu e que fazem com que o motor da
humanidade se acalme um pouco, faça menos barulho e ouça, quase dormindo, a
incrível sensação de produzir o que um maestro da envergadura do Maestro
Frederico Gerling Junior produziu brilhantemente em sua vida artística, que é
para nós motivo de orgulho, que é para a Cidade a incorporação de mais um
cidadão entre seus extraordinários artistas, que tem como assinatura magnífica
esse Coral que hoje nos encantou. Muito obrigado. (Palmas.)
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Recebemos correspondências encaminhadas
ao Maestro pelo Professor Carlos Alberto Garcia, Vereador-Líder do PSB; pelo
Diretor Eduardo Giugliani, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, Faculdade de Engenharia; pelo Desembargador Federal Vladimir Passos de
Freitas; pelo Chefe de Gabinete da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos
Internacionais, em nome do Secretário, Armênio de Oliveira dos Santos; do
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, da Presidenta, Rosa Maria Weber
Candiota da Rosa; do Professor Ruy Pauletti, Deputado Estadual; da Talaine
Selistre, Chefe de Gabinete do Deputado Federal Edir Oliveira; do Dr. Odacir
Klein; do Conselheiro Victor Faccioni, Presidente do Tribunal de Contas do
Estado; da Fundação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Dona Marli Dossin, e
também, assinado pela Dona Marli Dossin, um abraço que o Maestro Isaac
Karabtchevsky, que não se encontra em Porto Alegre, pediu que encaminhasse a
Vossa Senhoria.
O
Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Porto Alegre
devia ao Maestro Frederico Gerling Júnior uma homenagem. O Rio Grande do Sul,
de certa maneira, em 1994, ao escolhê-lo Gaúcho Honorário, ou em 1996, ao
outorgar-lhe a Medalha Simões Lopes Neto, já havia iniciado o resgate. Era
necessário, porém, que a sensibilidade do Ver. Carlos Pestana promovesse esta
homenagem que hoje, aqui, se realiza e que é, em nível porto-alegrense, o
tributo justo e merecido a quem, de coração, optou por se aquerenciar nestas
plagas e aqui promover esse grande incremento cultural ao longo de todos esses
tempos.
Esse
catarinense emérito nós fomos capturar em São Paulo e aqui se sentiu tão em
casa e não mais saiu. Por isso, Maestro Gerling, eu tomo a ousadia de assumir a
tribuna depois de o senhor já ter sido saudado por oradores brilhantes, que,
com toda a razão e com toda a justiça, cantaram em prosa e verso o magnífico
trabalho que o senhor realiza aqui no Rio Grande do Sul, e, mais do que no Rio
Grande, em nossa Cidade.
Acho
que já foi lembrado o seu trabalho no coral do SESC, na Associação Lírica
Porto-Alegrense e em tantas outras atividades pelo senhor desenvolvidas na área
da música, e, especialmente, a regência do coral da PUC desde 1972. Setenta e
dois para mim é uma data muito marcante. Três anos antes eu havia saído da
Pontifícia Universidade Católica, formado em Direito, e em 72 concorria, pela
primeira vez, a um pleito municipal. E pela bondade de uma ponderável parcela
da população de Porto Alegre, eu era, pela primeira vez, guindado à condição de
Vereador de Porto Alegre. Mas não me desvinculava da PUC. Os liames de uma vida
universitária intensa em duas das suas faculdades, de uma das quais eu tenho
colegas presentes no dia de hoje, deram-me, com aquela instituição
universitária um vínculo muito forte. E nós sabemos o que representa para a PUC
o seu coral. E sabemos o que representa para o coral a sua presença. Então nós
não podíamos, sob pena de omissão, mesmo correndo o risco de empanar um pouco o
brilho à sua homenagem, deixar de nos manifestarmos neste momento. Pedimos
vênia ao Ver. Pestana, que é o grande homenageante da noite, para aduzir estas
nossas colocações de ordem eminentemente pessoal, que reproduzem o sentimento
do nosso Partido, o Partido da Frente Liberal, que, não se omitindo, comparece
nesta tarde. E, ao saudá-lo, agradece, não só pelo trabalho, mas pelo exemplo.
O exemplo, mais do que o trabalho, gratifica-nos, porque o senhor nos enseja
que a sensibilidade do Ver. Carlos Pestana nos permita apresentar ao Rio Grande
do Sul um exemplo maravilhoso de competência e de amor ao que faz. Nessas horas
a gente lembra de alguns pensadores, como Fernando Pessoa, que nos dizia que
tudo vale a pena quando a alma não é pequena; então a gente podia parafraseá-lo
e dizer que quando a gente faz as coisas com amor, a gente faz melhor, e o
senhor é excelente porque faz com amor, faz com dedicação, gosta do que faz, e
gostando do que faz, sempre o faz de forma a merecer os melhores e maiores
reconhecimentos. Muito obrigado, Maestro, a sua música nos encanta, mas a sua
personalidade nos domina, porque ninguém poderia fazer essa música com a
qualidade que o senhor faz, porque não teriam surgido os Concertos Zaffari, que
tanto sucesso fazem, essas 600 mil pessoas que se envolveram nessas edições dos
Concertos Zaffari, cujo término, neste ano - por iniciativa do Conselho de
Cidadãos Honorários de Porto Alegre, desse Conselho que o senhor passa a
integrar no dia de hoje -, foi realizado em homenagem a nós, da Câmara. Nada
disso existiria se atrás deles não estivesse um homem que ama o que faz, que
gosta de fazer aquilo que desejou fazer, que jogou uma vida inteira neste
propósito e que, naturalmente, conseguiu o sucesso que o senhor conseguiu.
Por
isso a Câmara de Porto Alegre quando lhe outorga o Título de Cidadão Honorário
de Porto Alegre, quando lhe entrega ao Dr. Geraldo Stédile para compor, junto
desses homens e mulheres que integram a nossa galeria, o faz de forma muito
altaneira, mas, sobretudo, de forma muito reconhecida, acentuando, de um lado o
reconhecimento e o agradecimento, e de outro, proclamando que Porto Alegre,
pelos seus representantes, jamais deixará de fazer justiça àqueles que, pelo
seu valor, pelo seu trabalho, pelo seu empenho, pela sua desenvoltura pessoal,
realizam tarefas que mereçam ser destacadas. O senhor é um belo exemplo, por
isso, com muita justiça, a unanimidade deste Legislativo consagrou a iniciativa
do Ver. Carlos Pestana, fazendo-lhe Cidadão Honorário da nossa Cidade na Lei,
porque de verdade e de coração, o senhor já é um homem de Porto Alegre há mais
tempo. Seja, agora, de fato e de direito um Cidadão porto-alegrense. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Cidadão, Frederico Gerling Junior, os
Vereadores são a síntese democrática de todos os cidadãos da Cidade, e foram
eles que disseram que o querem na galeria dos Cidadãos Honorários da Cidade. Eu
sei que V. Sa. há de considerar uma honraria, mas para a Câmara de Porto Alegre
também é uma honra tê-lo nessa galeria de homens que marcaram a sua presença
pelo seu trabalho, pelo seu amor à Cidade, pela sua doação, pela sua
integridade, pela sua seriedade, mas, sobretudo, pelo amor que tem dentro de
seu coração, expresso, sempre, na música.
É
chegado o momento da outorga do Título e da Medalha, e eu convido a Sr.ª
Adriana Cardoso de Almeida, Coordenadora do Instituto de Cultura Musical da
PUC, e também o Ver. Carlos Pestana para entregarem o Diploma e a Medalha a que
o nosso novo Cidadão de Porto Alegre faz jus.
(Procede-se
à entrega do Diploma e da Medalha.) (Palmas.)
E,
agora, neste momento, o nosso cidadão integração, o Maestro Túlio Belardi, com
os seus magníficos músicos da OSPA, apresentarão a abertura da Ópera Gianni Schicchi
“Oh!, Mio Bambino Caro”, de Giácomo Puccini. (Palmas.)
(Assiste-se
à apresentação da peça musical “Oh! Mio Bambino Caro”.) (Palmas.)
Nós
ouvimos “Oh! Mio Babbino Caro”, da Ópera Gianni Schicchi, de Giácomo Puccini.
Meus cumprimentos à voz maravilhosa da soprano Adriana de Almeida. A Câmara
vive um momento de muita felicidade, sem dúvida nenhuma. Maestro, obrigado pela
improvisação, já que o roteiro era outro, meus cumprimentos a Vossa Senhoria.
O
Sr. Frederico Gerling Junior está com a palavra.
O SR. FREDERICO GERLING JUNIOR: Meu Deus, que vergonha de subir aqui
depois de tantos oradores magníficos e impressionantes. Eu fico até comovido e
constrangido em ouvir tantos elogios, dos quais eu não sei se sou merecedor.
Mas, antes disso, eu já perdi até o rumo do cerimonial. Sr. Presidente, João
Antonio Dib, já de longos anos o conheço, acompanho seu trabalho. Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ver. Carlos
Pestana, passou o meu grande medo; o meu medo era que o Vereador fosse para a
Comissão de Ética por falta de decoro por indicar meu nome como homenageado.
Mas, pelo jeito, V. Exa. está salvo dessa, já recebi o Diploma. Agradeço ao
Ver. João Carlos Nedel pelas suas palavras, ao Ver. Cláudio Sebenelo também
pelas suas palavras, bem como ao Ver. Reginaldo Pujol. Agradeço ao meu colega,
Maestro Túlio, por trazer esses músicos aqui, de improviso, sem a gente saber.
E agradeço também os músicos que vieram aqui tão espontaneamente. Espero que
não tenha de dar o troco para vocês depois, porque não será fácil. Vocês são
terríveis! Já trabalhamos juntos há 30 anos, e, é uma alegria muito grande
estar com vocês, e vocês estarem comigo. E ao meu coral que está aqui também.
Que coisa maravilhosa!
Eu
tomo a liberdade de fazer uma coisa muito informal, porque eu sou informal, não
sou de muita cerimônia. Pensei: O que é a vida? Cheguei à conclusão de que a
vida é a soma de momentos. Que momentos? Momentos de alegria, momentos de
tristeza, momentos de decepção, momentos de êxtase, momentos de euforia,
momentos de desespero. Mas todos esses momentos são necessários, porque sem
luta, sem cruz não há coroa, e é atrás disso que nós esperamos que sejam
recompensados todos aqueles que lutam.
Pensando
nos momentos, eu penso na vida que é composta de momentos, por exemplo, do
presente, do passado e do futuro: no passado, nós aprendemos; no futuro, nós
sonhamos; e, no presente, nós vivemos. Que coisa importante pensarmos em todos
esses movimentos! Esses movimentos nos dão a vida, que somam e acabam formando
o nosso caráter e a nossa trajetória.
Eu
gostaria de recordar, juntamente com vocês, alguns momentos do meu passado. Lá
no passado, quando garoto - morávamos um pouco fora da cidade -, um dia, eu saí
e sentei perto de uma árvore, onde havia passarinhos cantando. De repente,
olhei para o chão e vi uma fila de saúvas carregando uma folha muito grande nas
costas, muito maior do que a própria formiga. Eu, menino traquinas que era,
pensei: essas formigas não vão mais para o ninho, não! Peguei um galho de
árvore que havia perto e coloquei bem no trilho que elas faziam. Chegou a
primeira formiga com aquela folha nas costas, esbarrou e caiu do galho. Subiu e
caiu de novo. Aí, resolvi começar a contar as tentativas. Meus senhores e
senhoras, eu contei 38 vezes; na 39ª, a formiga atravessou o galho que eu botei
na estrada. Que espírito de luta! Quem não luta, não tem coroa. Isso trouxe
para mim um espírito de perseverança que me acompanhou: é preciso experimentar
sempre mais uma vez, que venha o fracasso que vier, mas a próxima vez poderá
ser a vez da vitória.
Conversando
em casa com o meu pai - ele participou da guerra de 1914 a 1918 –, ele nos
contava alguns episódios daquela coisa trágica. Certa vez, ele me contou:
“Nossa companhia foi cercada. Estávamos todos para sermos presos ou mortos”.
Todos diziam: “Vamo-nos entregar!” E ele disse: “Eu não!” e saiu correndo,
levou um tiro no braço, mas está vivo, e eu estou aqui. Juntem as duas coisas:
a formiga e meu pai; não é que ele seja parecido com a formiga, mas os dois
tiveram o mesmo espírito de luta. Meu pai disse: “Não, não chegou a minha hora,
ainda.”
Mas,
senhores, o homem vence enquanto acredita. Meu pai acreditou que poderia
salvar-se. Sempre que temos um momento, uma luta pela frente, é preciso
acreditar, porque se acreditarmos também chegaremos, com certeza, a essa luta
que estamos ensejando.
Eu
tive um momento muito importante na minha vida, que me calcou desde pequeno,
porque até hoje eu sou muito perseverante, até teimoso às vezes, e luto, gosto
de lutar. Quando eu tinha 11, 12 anos e entrei no ginásio, em Curitiba, o
professor de música chegou na sala - aqueles professores, desculpe, Sr. Cônsul
da Itália, de borboletinha, de pince-nez e de polaina daquelas antigas, de
roupa bem alinhada - e disse: “Io sono il professore di musica”. E todos
tivemos que nos levantar e perfilar, e ele disse: “Vou ensinar música”. E
começou a nos ensinar teoria, e nós perguntamos: “O que é isso?” Ele respondeu:
“Vou ensinar música para vocês!” Muito bem! E, aí, todos nós levantamos,
cantamos uma música tão bonita que nunca me passa da memória, nunca sai do meu
coração. E se o Túlio me permitir, vou dar uma chegada até a Orquestra. Posso?
Posso tocar essa música para vocês? Eu vou lá! (Palmas.)
(O
homenageado executa uma música. Assiste-se à apresentação.) (Palmas.)
Eu
quero agradecer a esses músicos queridos que fazem parte da minha família.
Músico para mim é irmão, e todos vocês são meus irmãos. De modo que, agora,
vocês são irmãos de um Cidadão de Porto Alegre. (Palmas.)
A
primeira impressão fica, foi dali que surgiu o meu amor e a minha paixão pela
música erudita, pela ópera que eu tanto adoro, que eu tanto gosto, porque ela é
um estilo de música completo. Ela tem de tudo, tem a música, tem a emoção, tem
o drama, tem a dança, tem o canto, tem de tudo, é maravilhosa. A primeira
impressão fica, e essa ficou no meu coração e na minha alma. Mas passa essa
fase em que tudo é maravilhoso, todas essas impressões, a gente chega na
adolescência, que idade braba, que idade triste, que idade maravilhosa, porque
o adolescente sabe tudo; o adolescente é o dono do mundo, ele quer tudo, ele
sabe tudo, e eu já fui adolescente desse tipo mesmo, confesso que eu fui desse
tipo. Desculpem, eu faço essa mistura de música com educação, essa coisa,
porque no fundo eu sou educador; o meu colega de formatura está ali, de
Pedagogia e de Filosofia, porque eu lecionei muitos anos e também Psicologia,
paixão pelo ensino e pela educação estão no meu coração, junto com a música,
porque as duas funcionam maravilhosamente bem. Como eu disse, o adolescente
sabe tudo. Um dia, eu vi uma pessoa cantando em uma reunião, na igreja, eu
disse: “Bom, ele canta bem, mas eu canto melhor”. Eu tinha 12 anos, cheguei lá
na frente e disse: “Eu quero cantar também”. “Mas você não pode cantar, você é
muito menino”. E fui lá para a frente. O piano começou a tocar, e eu comecei a
cantar, comecei a tremer e a letra da música caiu da mão. Mas adolescente
também é danado. Eu peguei a letra da música que havia caído ao chão e cantei
até o fim, porque eu me lembrei da formiga. Mas o pior me aconteceu no Rio de
Janeiro. Eu era solista do coral Carlos Gomes, de São Paulo - eu tinha 13 anos,
senão me engano -, era solista e estávamos fazendo um recital na ABI -
Associação Brasileira de Imprensa do Rio -, e havia um colega meu no Coral que
cantava muito bem também, mas eu disse: “Dessa vez, quem vai cantar sou eu”.
Aquele adolescente danado! “Muito bem, então vai cantar”. Estávamos fazendo um
concerto patriótico e pediram que eu cantasse “Ó Meu Brasil”, de Vicente
Celestino: “Ó Meu Brasil, quando eu contemplo o teu passado...” E lá fui eu
cantar Vicente Celestino. Minha gente, há um agudo no fim da música, e, na hora
do agudo, entrou uma mosca na minha boca. Que castigo para um adolescente
pretensioso e vaidoso! Mas eu me lembrei da formiga, fui lá dentro, voltei e
cantei até o fim. Ganhei bastante palmas. Não tantas como hoje, mas ganhei
bastante também.
Mas
o que é? É o adolescente, minha gente, que precisa de um jardineiro. Eu gosto muito
de flores e plantas. O jardineiro pega aquelas plantas, arruma, bota terra em
volta, rega, poda até que elas fiquem bonitas. Se houver vento, balançam muito,
ele arruma, bota uma escora para que elas não se estraguem, para que não
quebrem, para que não venham a se prejudicar e dêem aquela flor maravilhosa. O
adolescente precisa de “calma moço, devagar, vamos arrumar a tua vida, não é
bem assim!” Por quê? O adolescente, se não é formado nessa parte da vida,
torna-se um adulto que jamais vai reconhecer a sua culpa pelos erros que
comete. E, se ele é adulto formado dentro de um esquema, ele vai reconhecer os
seus erros, ele vai dizer: “Bom, eu errei”. E essa pessoa, se não formada, vai
se esquecer dos outros. E acho que a pior coisa que existe no mundo é nós nos
esquecermos do nosso semelhante. Ele se esquece do quem tem de fazer, de que o
semelhante é igual a ele, que tem uma obrigação com ele. E o pior, ele se
esquece de tudo, e quantas vezes se esquece de Deus também. Essa adolescência é
importante, para mim foi importante ouvir aquela música bonita saindo,
maravilhosa. Eu vi aquela formiga lutando para vencer aquilo. Mas foi por quê?
Porque se viu que houve uma formatura de alguém que tinha de lutar para vencer,
porque a vaidade não leva à nada. Se queria uma coroa, eu tinha de lutar.
Não
posso me prolongar, porque, daqui a pouco a campainha do nosso Presidente
tocará, não quero me prolongar. Mas um outro momento maravilhoso no qual eu já
pude aplicar um pouquinho da minha adolescência foi quando eu fui funcionário
da Prefeitura Municipal de São Paulo. Em São Paulo havia os CRs, Centros de
Recreação, nos quais os meninos de rua eram acolhidos. Havia mais de cinqüenta
Centros de Recreação na cidade de São Paulo. Eu fui contratado para trabalhar
música com essas crianças. Eu tinha sete corais em sete Centros: em Perdizes,
havia outro na Praça Dom Pedro, em vários lugares. Ia de um para outro, um dia
em dois, três; outro dia em dois, três. Esses meninos vinham da rua, tomavam
seu banho, tomavam o seu lanche, uns iam jogar basquete, outros iam jogar
vôlei, outros, pingue-pongue, e outros vinham para a sala de música. Ali eles
aprendiam um pouco de música, cantavam hinos pátrios, cantavam toda a espécie
de música, populares também. E que sucesso, meus amigos! Que coisa maravilhosa!
Não seria uma boa maneira de, hoje, fazer isso proliferar, para tirar esses
meninos da rua? Com menino não adianta briga, com menino não adianta crítica; o
que o menino quer é exemplo. O exemplo é uma das coisas mais importante que existe.
(Palmas.) Aprendi isso com Villa-Lobos. O caro Vereador falou tanto em
Villa-Lobos. Depois eu brinquei com ele: “Você não sabe que eu fui aluno dele,
não é?” Eu tive duas aulas com ele. Eu fui da Escola do Villa-Lobos. Ele tinha
uma escola em São Paulo com o nome dele. Com ele, eu aprendi aquele movimento –
os senhores devem estar lembrados – que juntava 15, 30, 40 mil crianças num
estádio. Lá cantavam. Eu estava junto com eles, com as crianças da minha escola
do CR. Ali se cantava horas a fio, e aquela criançada toda, com aqueles
uniformes brancos de Grupo, como usavam naquele tempo. Que coisa maravilhosa
para formar o caráter de uma criança, de um adolescente que ali ia! Eles iam
subindo, e iam subindo na sua vida também.
Meus
amigos, hoje em dia se produzem vários tipos de música. Alguns produzem música
para o cérebro. Então vão a um concerto, compram um CD e, com a partitura na
mão, dizem: “Esta nota aqui não foi bem afinada, esta aqui o violino esqueceu
de tocar”. Então, vem aquela música do cérebro, perfeita.
Há
outros que fazem música para o pé. Outros fazem música para o coração. Foi o
que sempre procurei fazer. A música deve chegar ao coração das pessoas, porque,
no momento em que ela chega ao coração... E a maneira mais fácil de chegar ao
coração de uma criança ou de uma pessoa é através da música. Esse sempre foi o
nosso ideal. Sempre procuramos fazer isso para que elas tivessem... Muito bem,
senhores, eu vou atrás de outras coisas. Por quê? Eu amo a música, e nós amamos
aquilo que aprendemos. Aprendi, principalmente, a amar a música. Com esse amor
pela música, tenho jogado a minha vida, procurando ser feliz, agora, aprendi
também que só depois de partilhar se é feliz. Se eu tenho algum dom, que Deus
me deu, eu só vou ser feliz se eu partilhar esse dom com os outros, porque,
como aquelas crianças saindo tão felizes dos CRs, dos corais... Aí está o meu
querido Coral da PUC, quanto eu o amo! São da minha família também, tanto
quanto a Orquestra, que há 30 anos trabalha junto comigo, o Coral também. Nós
formamos uma família porque amamos a música, e muitos a aprenderam desde o
começo.
Nesta
semana recebi um e-mail de uma pessoa
que não conheço, que assiste aos nossos Concertos Zaffari, que disse: "As
minhas duas filhas agora só querem saber de música." Num outro dia eu
encontrei uma senhora, que me disse: "Eu estou gastando muito dinheiro por
sua causa, a minha filha agora só quer comprar CD de Beethoven, de Mozart... A
culpa é sua." Eu disse: "A senhora dê graças a Deus por ter essa
filha maravilhosa, que gosta disso também." Porque quando amamos, nós
amamos e conseguimos partilhar até sem querer. Essa é uma das grandes coisas
que se tem. Uma pessoa formada quando adolescente, ela vai encontrar em cada
ser uma oportunidade - por que uma oportunidade? – de transmitir também aquilo
que ela aprendeu a amar e não deixar essa pessoa passar de lado. Não pode
passar de lado porque ela não será feliz se não transmitir para os outros
também aquilo que ela sente dentro dela. E o exemplo, se nós fazemos esta música,
vale muito mais do que ensinarmos em uma sala de aula por horas e horas. Quando
eu era aluno eu tive uma professora de Português e um dia ela me chamou:
"Frederico, vem cá. Você tem uma responsabilidade muito grande na
vida." Eu disse: "Por quê?" - "Porque o meu filho, quando
crescer, quer ser igual a você." Eu disse: "Coitado! Mas não pode
ser, professora Albertina." - "Ele quer ser como você. Ele quer
cantar como você canta; ele quer tocar piano como você toca; ele quer jogar vôlei
e basquete como você joga." A responsabilidade que nós temos. Sabem que
foi um momento maravilhoso quando eu ouvi isso dessa professora, e também foi
um momento terrível: "Meu Deus, que responsabilidade que eu tenho!"
Isso me acompanha também durante a vida.
É
preciso que tudo isso aconteça em nossa vida, que nós formemos, dentro deste
amor que nós temos pela música e por aquilo que nós fazemos. A música é
onipresente, meus amigos. Há alguma cerimônia em que não haja música? Até aqui
tem, dentro da Câmara de Vereadores, Sr. Presidente. Eu não sei se vamos ser
barrados de entrar, futuramente... Até aqui se faz música...
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Maestro Belardi está acostumado a tocar
aqui.
O SR. FREDERICO GERLING JUNIOR: Então, está bem! Muito bem, a gente também
pode voltar? Está bem, voltaremos. Olhem, estou avisando a vocês também que
poderemos voltar. Voltaremos, com todo o prazer, com toda a honra, agora que a
Casa é meio minha.
Falei
um pouquinho do passado. Cortei muito, porque já está tarde.
Falo
do presente. Vim a Porto Alegre a convite da Universidade, da PUC. Digo minha
PUC porque eu fui aluno da PUC, formei-me na PUC e lecionei na PUC.
Quando
eu vim, o reitor era o Irmão Otão, o saudoso Irmão Otão. Ele disse: “Não
precisa de uma pessoa para cuidar só do coral, não. Precisa fazer outra coisa.”
Aí me pôs na sala de aula. Fui dar aulas de História da Arte, na Faculdade de
Educação. Eu digo: “Está bem.” Aí o coral começou a crescer, crescer,
crescer... Um coral de 17, que me entregaram, em 6 meses estava com 70
componentes. Aí ele disse: “É, então agora pode cuidar só do coral.” Ah, coisa
boa!
O
coral foi crescendo, fomos trabalhando com alegria imensa; hoje há pessoas que
saíram do coral em todas as profissões, em todos os lados do Brasil. Já há
milhares que passaram por ali em 30 anos. Cada coral nosso tem 80, 90, 100
pessoas, e isso vai variando.
A PUC, meus senhores - e aqui eu faço uma apologia; se
quiserem contar para o Reitor, podem contar -, é um lugar maravilhoso de se
trabalhar, realmente maravilhoso, minha gente. A recepção quando cheguei foi
maravilhosa.
Cheguei na PUC numa noite, acho, de quinta-feira, e me
apresentei. “Ah, pois não...” - o Irmão Ernesto. O saudoso Irmão Fidêncio
levou-me até o Irmão Otão, e o Irmão Otão: “Ah, muito bem, muito bem... Então,
amanhã, o senhor, por favor, venha aqui para a recepção.” Eu digo: “Está bom,
eu venho.” “Eu quero conversar com o senhor.” - sério, assim, como o Irmão Otão
era. Meus senhores, me levou lá em cima para a sala do refeitório dos Irmãos. Havia
mesa cheia de guaraná, de docinhos, de salgados; pensei: “Onde é que eu fui...
Que coisa boa!” Aí, foi uma palestra... Meus senhores, eu nunca vi uma coisa
igual. Acabou a recepção feita pelo Irmão-Reitor, o Irmão Otão, na época, e
disse: “Aqui está a chave do Salão de Atos, que vai ser o seu local de
trabalho.”
Meus senhores, se alguém se queixar da PUC, é porque não
cumpriu com o seu dever. Ali trabalhamos com amor, não há hora, não há domingo,
não há feriado, não há final de semana; estamos sempre com o coração voltado
para dentro da Universidade. Mas, senhores, isso não é sozinho! É com esse
coral maravilhoso, que nos sustenta.
Nós
temos alguns 4 ou 5 coralistas que nos acompanham nesses 31 anos em que eu
estou na Universidade. Já desde aquela época vêm-me acompanhando, e, por isso,
eu impus um 11º mandamento no nosso coral: suportai-vos uns aos outros. E nós
seguimos esse mandamento, eles me suportam e eu os suporto também, mas isso é
realmente maravilhoso. O nosso coral é uma coisa excepcional, as nossas mentes
são sempre voltadas ao bem do outro, não vamos para nos exibir na praça
pública, no teatro ou onde for; nós vamos ali para levar alegria para o povo,
nós temos Deus no coração, e, senhores, nós não fazemos um movimento, um
concerto, uma apresentação qualquer sem que todo o Coral se una de mãos dadas e
reze o “Pai Nosso”. Por quê? Porque nós temos isso no coração. Música sem
coração e sem Deus não existe. É isso que nos anima, é isso que nos leva para a
frente. Não buscamos promoção própria, de maneira nenhuma, porque aquele que
procura promoção própria não está no caminho certo, não vai para lá.
Devemos
usar a música e sempre a temos usado em benefício dos outros. Por isso, eu
confesso aos senhores, desculpem a vaidade, mas eu sou muito rico. O Túlio está
rindo para mim. É verdade, Túlio, eu sou muito rico. A minha riqueza, senhores,
é a paz que tenho de haver feito todo o possível para cumprir a minha missão
nesta terra - é uma riqueza. Eu tenho uma poupança fantástica também, a
poupança, meus senhores, é a satisfação e a alegria do público, depois de um
concerto, é uma poupança tão grande que não cabe no Banco do Brasil, é muito
grande, é importantíssima e não vai terminar nunca. Eu tenho uma fortuna, minha
gente, a fortuna são os meus sonhos realizados. Isso me comove e me anima a
continuar, a formiguinha não sai da minha cabeça, vamos em frente e vamos
lutar, é a minha fortuna.
Sr.
Presidente, este é um momento importante na minha vida, o dia de hoje, em que
sou Cidadão Honorário, eu já era de coração - como disse um dos Vereadores, se
não me engano o Ver. Reginaldo Pujol -, há muito tempo, agora eu sou realmente,
de verdade. Não é este Diploma maravilhoso, essa Medalha que me vão tornar um
cidadão melhor. Isso vai-me tornar um cidadão mais responsável ainda, muito
mais responsável pelo povo de Porto Alegre - que é maravilhoso, que nos abriga
de uma maneira extraordinária, simples, amoroso e dado a todas as comunhões que
se pode fazer.
Eu
sei que nós temos problemas em Porto Alegre, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
todos nós temos problemas, mas como Cidadão eu vou fazer agora minha profissão
de fé: diante de todos os problemas, eu prometo ao Senhor que olharei para luz.
Pode ser a escuridão que estiver na minha frente, olharei para a luz. O que é a
luz? É o que há de bom em Porto Alegre. Em nome dessa luz farei melhor ainda.
Se tivermos desânimo no coração, que o coração vacile, que o coração fique
fraco – aliás o meu ficou fraco há um mês, quase morri com 14 de pulso; agora
está forte minha gente, está muito forte, como Cidadão, então, está batendo a
120 –, Sr. Presidente e também Presidente da nossa Associação, eu prometo aos
senhores de olhar para o Sol. O Sol simboliza o aquecimento de novo, o coração
esfria e aquele Sol vai-nos esquentar, vai-nos animar para continuar nesta luta
maravilhosa, sem esmorecer em nenhum momento. E olhando para o amanhã, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores e senhores presentes aqui, faço-o com o coração
cheio de fé, mas muita fé e cheio de coragem. Por quê? Tendo fé e tendo coragem
tenho certeza de que o dia de amanhã vai brilhar também.
Eu
prometo, ainda mais, olhar mais ainda para os outros que sempre foram o meu
fundo de trabalho, em prol dos outros, em benefício dos outros, vou olhar mais
para os outros, vou olhar mais para as árvores maravilhosas de Porto Alegre,
para esse lindo Guaíba - que me inspirou os dois poemas -, vou olhar mais para
as plantas maravilhosas, vou olhar para tudo que temos de maravilhoso nesta
Cidade, sem me esquecer de nada e, através da música, gerar felicidade para
aqueles que nos contornam e aqui estão. Em todos eles, aqueles que estão em
volta de nós, tudo que é natureza, tudo que são pessoas, tudo que são seres
humanos nesta Cidade, vou continuar encarando como representantes de Deus,
porque sem Ele nada acontece. Eu prometo que essa felicidade vai gerar
felicidade para toda Porto Alegre, porque a música é a linguagem divina, creio
nisso e nisso vou batalhar. Muito obrigado pela homenagem que recebi e pela
presença de todos os senhores. (Palmas.)
(O
Sr. Frederico Gerling Junior retoma a palavra.) (Palmas.)
Eu
dei um susto nos senhores, mas não acabei, não! Deixei para o fim, para todos
pensarem - agora pode tocar a campainha Sr. Presidente. Os Concertos Zaffari
marcaram a minha vida. Cansado de fazer pouca música, queria fazer mais, fazer
muito, eu bati um dia no escritório do Zaffari, falei com o Sr. Aírton, que me
recebeu maravilhosamente bem - será que eu vou vender o meu peixe para ele,
será que vou vender uns concertos para o Zaffari? Expusemos toda aquela coisa:
vamos fazer um concerto assim, com orquestras, com ballet, o senhor vai ver que
maravilha - e ele quieto assim me olhando. O Sr. Aírton é uma pessoa
maravilhosa, aliás, toda a família. Acho que eles não estão presentes, mas os
chamo de meio irmãos, porque os quero bem como irmãos. Ele disse: então vamos
fazer um concerto, sim. E fizemos o primeiro concerto. Ah! que coisa
maravilhosa dentro do nosso coração, que coisa maravilhosa! E dali foi indo,
foi indo, de um concerto em outro, e estamos há dezesseis anos fazendo
concerto, e digam a eles que nós queremos mais dezesseis, e o público não quer,
mas nós queremos! Nós queremos levar alegria para esse povo, levar fé. Na saída
de um concerto as pessoas vêm-nos abraçar, choram, dizem “o senhor colocou
gasolina no meu tanque por um mês!”, “eu estava triste, vim aqui e fiquei
alegre!” Um dia me vieram as lágrimas, uma senhora me abraçou e não me largava,
não me largava, e disse: “Eu vim assistir a este concerto porque era o meu último
dia, eu estava desesperada e iria-me suicidar hoje” - ela ouviu música e está
viva até hoje, senhores. Nós não sabemos o que fica atrás daquilo que nós
fazemos, o importante é a consciência limpa de que nós fazemos o que podemos. E
o Zaffari se caracterizou por uma coisa maravilhosa. Posso chegar aí Túlio? Eu
vou mais uma vez aí embaixo, se os senhores deixarem. Eu vou caracterizar o
Zaffari e esta alegria que todos nós temos. (Palmas.)
(É
feita a apresentação da OSPA com a regência do Maestro Frederico Gerling
Junior.)
Apresentamos
a “Ode à Alegria”, de Beethoven. Espero que todos saiamos alegres, não tão
alegres quanto eu, tão felizes como eu, mas lembrem-se de nós que fazemos
música por amor, para alegrar a todos vocês que nos assistem e a nós mesmos,
pois é uma edificação fantástica, que jamais esqueceremos.
Muito
obrigado a todos por esta oportunidade maravilhosa que tive na minha vida, vai
ser o momento mais marcante de toda a minha vida, podem ter certeza.
Sou
muito grato ao Sr. Presidente, ao caro Vereador Carlos Pestana, que teve a
coragem e a honra de me indicar. Muito obrigado a todos! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O senhor foi o protocolo hoje. Nos
encaminhamos para o final desta justa e belíssima homenagem. O nosso Maestro
Frederico Gerling Junior disse que a vida é feita de momentos e na realidade é
isso mesmo. São momentos bons e outros não tão bons. Claro que ele hoje viveu
um momento extraordinário, muito bom, que ele vai guardar na conta de poupança
dele para quando surgir um momento que não seja tão bom, que ele possa
recuperar.
Mas
eu quero que cada um de nós, que viveu um momento extraordinário, possa iniciar
o dia de amanhã de espírito desarmado, com o coração alegre e acreditando que é
possível haver paz.
Eu
quero agradecer pela presença do nosso ilustre homenageado, novo cidadão de
Porto Alegre, dos componentes da Mesa e demais autoridades presentes e de cada
uma das pessoas que se fizeram presentes.
Neste
momento convidamos todos os presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense,
comandado pelo Maestro Túlio Belardi.
(Apresentação
do Coral da PUCRS e da OSPA, que executam o Hino Rio-Grandense.)
Agradecemos
pelaa presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.
(Encerra-se
a Sessão às 20h45min.)
* * * * *